sábado, novembro 10, 2012

A Maldição do Tigre - Capítulo 1

Kelsey

    Eu me encontrava à beira de um precipício. Quer dizer, eu estava apenas na fila de uma agência de empregos temporários no Oregon, mas a sensação era a de me aproximar de um despenhadeiro. A infância,  a escola e a ilusão de que a vida era boa e fácil tinham ficado para trás. À frente, o futuro se delineava: a faculdade, uma variedade de empregos de verão para custear os estudos e a alta probabilidade de uma vida solitária.
    A fila avançava. Parecia que eu já estava esperando ali há horas, tentando garantir uma vaga para trabalhar durante o verão. Quando finalmente chegou minha vez, aproximei-me da mesa de uma funcionária cansada e entendiada, que falava ao telefone. A mulher fez um gesto para que eu me sentasse. Depois que ela desligou, entreguei-lhe alguns formulários e ela mecanicamente deu início à entrevista:
    - Nome, por favor.
    - Kelsey. Kelsey Hayes.
    - Idade?
    - Dezessete, quase 18. Meu aniversário está chegando.
    Ela carimbou os formulários.
    - Já completou o ensino médio?
    - Já. A formatura foi há duas semana. Pretendo estudar na Chemeketa no próximo semestre.
    - Nome dos pais?
    - Madison e Joshua Hayes, mas meus tutores são Sarah e Michael Neilson.
    - Tutores?
    Lá vamos nós outra vez, pensei. Por algum motivo, explicar a minha vida nunca ficava mais fácil.
    - Sim. Meus pais estão...  mortos. Morreram em um acidente de carro quando eu estava no primeiro ano do ensino médio.
    Ela se inclinou sobre alguns papéis e escreveu por um longo tempo. Fiz uma careta, me perguntando o que ela poderia estar escrevendo.
    - Srta. Hayes, gosta de animais?
    - Claro. É... eu sei como alimentá-los... - Existe alguém mais sem jeito do que eu? Ótima maneira de não conseguir um emprego. Pigarreei - Quero dizer, claro, eu adoro animais.
    A mulher não pareceu nem um pouco interessada na minha resposta e me entregou o anúncio de um emprego.

PRECISA-SE DE
TRABALHADOR TEMPORÁRIO PARA APENAS DUAS SEMANAS
ATRIBUIÇÕES: VENDA DE INGRESSOS,
ALIMENTAÇÃO DOS ANIMAIS E
LIMPEZA DEPOIS DAS APRESENTAÇÕES.
Observação: Como o tigre e os cães precisam
de cuidados 24 horas por dia, fornecemos
alojamento e refeições.

    O emprego era no Circo Maurizio, um pequeno circo montado no parque de exposições. Eu me lembrei de que ganhara um cupom de desconto para ele no mercado e até havia pensado em me oferecer para levar os filhos dos meus pais adotivos, Rebecca, de 6 anos, e Samuel, de 4, para que Sarah e Mike tivessem algum tempo a sós. Mas acabei perdendo o cupom e esquecendo o assunto.
    - E então: quer o emprego ou não? - perguntou a mulher, impaciente.
    - Um tigre, é? Parece interessante! Tem elefantes também? Porque recolher cocô de elefante seria um pouco demais.
    Ri baixinho de minha piada, mas a mulher não fez mais do que esboçar um sorriso sem graça. Como eu não tinha outras opções, disse a ela que aceitava. Ela me deu um cartão com um endereço e me instruiu a comparecer lá ás seis da manhã.
    - Eles precisam de mim às seis da manhã?
    A funcionária simplesmente me olhou e gritou "Próximo!" para a fila atrás de mim.
    No que eu fui me meter?, pensei enquanto entrava no carro emprestado de Sarah e seguia para casa. Suspirei. Podia ser pior. Eu poderia ter que fritar hambúrgueres. Circos são divertidos. Só espero que não haja elefantes.

Eu gostava de morar com Sarah e Mike. Eles me davam muito mais liberdade do que os pais da maioria dos outros adolescentes e acho que existia um respeito saudável entre nós - pelo menos tanto quanto os adultos podem respeitar uma garota de 17 anos. Eu ajudava a cuidar das crianças e não me metia em confusão. Não era o mesmo que viver com meus pais, mas ainda éramos uma espécie de família.
    Estacionei o carro com cuidado na garagem, entrei em casa e encontrei Sarah atacando uma tigela com uma colher de pau. Deixei a bolsa em uma cadeira e fui pegar um copo de água.
    - Preparando biscoitos vegan outra vez? Qual é a ocasião especial? - perguntei.
    Sarah enfiava a colher de pau na massa espessa sem parar, como se a colher fosse um furador de gelo.
    - É a vez de Sammy levar o lanche para os amiguinhos.
    Reprimi uma risada tossindo.
    Ela me encarou, estreitando os olhos.
    - Kelsey Hayes, só porque sua mãe fazia o melhor cookie do mundo não significa que eu não possa fazer um lanche decente.
    - Não é da sua habilidade que eu duvido, é dos seus ingredientes - expliquei pegando um jarro de água. - Leite de soja, linhaça, proteína em pó e agave. Fico surpresa de você não colocar papel reciclado nessa coisas. Cadê o chocolate?
    - Às vezes uso alfarroba.
    - Alfarroba não é chocolate. Tem gosto de giz marrom. Se é para fazer biscoitos, você deveria tentar...
    - Já sei. Já sei. Biscoito de abóbora com gotas de chocolate ou biscoito de chocolate com manteiga de amendoim. Essas coisas fazem muito mal, Kelsey - disse ela com um suspiro.
    - Mas são tão gostosas.
    Observei Sarah lamber um dedo e continuei:
    - Por falar nisso, consegui um emprego. Vou cuidar da limpeza e dar comida aos animais de um circo. Fica no parque de exposições.
    - Que bom! Parece que vai ser uma ótima experiencia - animou-se Sarah. - Que tipo de animais vai alimentar?
    - Cães, principalmente. E acho que tem um tigre. Mas não vou precisar fazer nada perigoso. Tenho certeza que eles contratam profissionais para isso. O problema é que o turno começa super cedo, por isso dormirei lá pelas próximas duas semanas.
    - Hum - Sarah fez uma pausa - Bem, se precisar de nós, é só ligar. Você se importa de tirar a couve-de-bruxelas a la "papel reciclado" do forno?
    Pousei a travessa fedorenta no centro da mesa enquanto ela colocava seu tabuleiro de biscoitos no forno e chamava as crianças para o jantar. Mike entrou, largou a pasta e beijou a mulher no rosto.
    - Que cheiro é esse? - perguntou desconfiado.
    - Couve-de-bruxelas - respondi.
    - E fiz biscoitos para os amiguinhos de Sammy - anunciou Sarah, orgulhosa. - Vou separar o melhor para você .
    Mike me dirigiu um olhar de cumplicidade que Sarah não deixou passar. Ela o acertou na coxa com o pano de prato.
    - Se você e Kelsey ficarem se comportando desse jeito, vão arrumar a cozinha.
    - Ah querida. Não fique zangada.
     Ele tornou a beijar Sarah e a abraço, fazendo o possível para se livrar da tarefa.
    Achei que essa fosse minha deixa para sair. Enquanto eu escapava sorrateiramente da cozinha, ouvi Sarah dar uma risadinha.
    Eu queria que um dia um cara tentasse se livrar da louça comigo da mesma forma, pensei e sorri.
    Aparentemente, Mike negociou bem, pois ficou com a tarefa de pôr as crianças na cama em vez de arrumar a cozinha. A louça sobrou para mim. Eu não me importei, mas assim que acabei, decidi que era hora de ir para a cama também. Seis da manhã era cedo demais.
    Em silêncio, subi as escadas para o meu quarto. Era um espaço pequeno e aconchegante, com uma cama de solteiro, uma cômoda com espelho, uma mesa para o meu computador e para os deveres de casa, um armário, minha roupas, meu livros, uma cesta de fitas de cabelo coloridas e a colcha de retalhos da minha avó.
    Minha avó fez aquela colcha quando eu era pequena. Apesar de ser muito nova, eu me lembro de vê-la costurando os retalhos, sempre usando o dedal de metal. Tracei uma borboleta na colcha velha, puída nos cantos, recordando como eu havia roubado o dedal de sua caixa de costura uma noite só para senti-la perto de mim. Embora eu já fosse adolescente, ainda dormia com aquela colcha todas as noites.
    Coloquei o pijama, desfiz a trança do cabelo e o escovei, pensando em como a mamãe costumava fazer isso para mim enquanto conversávamos.
    Enfiei-me debaixo das cobertas quentes, acertei o alarme para, argh, 4h30 e me perguntei o que eu poderia fazer com um tigre tão cedo assim e como eu sobreviveria ao circo confuso que já era a minha vida. Meu estômago roncou. 
    Olhei na mesinha da cabeceira as duas fotografias que mantinha ali. Uma era de nós três: mamãe, papai e eu, no ano-novo. Eu tinha acabado de fazer 12 anos. Meus cabelos castanhos compridos haviam sido enrolados, mas na foto aparecem lambidos porque eu dera um ataque para não usar o laquê. Eu sorria, apesar do reluzente aparelho nos dentes. Agora se sentia grata pelos dentes brancos e alinhados, mas naquela época eu odiava aquele aparelho com todas as minhas forças.
    Toquei o vidro, pousando o polegar na imagem do meu rosto pálido. Eu sempre sonhara em ser esbelta, bronzeada, loura e de olhos azuis, mas tinha os mesmos olhos castanhos do meu pai e a tendência a engorda da minha mãe.
    A outra era foto espontânea dos meus pais no dia do seu casamento. Via-se um lindo chafariz ao fundo, e eles eram jovens, felizes e sorriam um para o outro. Eu queria aquilo para mim um dia. Queria alguém que olhasse para mim daquela maneira.
    Depois de virar de bruços e afofar o travesseiro debaixo da bochecha, adormeci pensando nos cookies da minha mãe.
    Naquela noite, sonhei que estava sendo perseguida na selva e, quando virei para olhar meu perseguidor, levei um susto ao ver um grande tigre. No sonho, eu ri e então me virei e corri mais depressa. O som de patas delicadas e macias me seguia, no mesmo ritmo do meu coração.

Continua...

sexta-feira, novembro 09, 2012

A Maldição do Tigre - Prólogo

A maldição

   O prisioneiro estava com as mãos amarradas diante do corpo, cansado, subjugado e imundo, mas com uma postura altiva digna de sua herança indiana real. Seu captor, Lokesh , olhava-o com desdém, sentado em um trono dourado, luxuosamente esculpido. Pilares brancos e altos erguiam-se como sentinelas em torno do salão. Nem sequer um murmúrio de brisa da selva passava pelas cortinas transparentes. Tudo o que o prisioneiro podia ouvir era o tilintar rítmico dos anéis ornados com pedras preciosas de Lokesh batendo na lateral do trono dourado. Lokesh olhava-o de cima, os olhos estreitados, insolentes e triunfantes.
   O homem preso era o príncipe de um reino indiano chamado Mujulaain. Oficialmente, seu título atual era Príncipe e Sumo Protetor do Império de Mujualaain, mas ele ainda preferia pensar em si mesmo como o filho do seu pai.
   O fato de Lokesh, o rajá de um pequeno reino vizinho chamado Bhreenam, ter sequestrado o príncipe não era tão surpreendente quanto sabe quem se encontrava sentado ao lado de Lokesh: Yesubai, a filha do rajá e noiva do prisioneiro, e o irmão mais jovem do príncipe, Kishan. O cativo estudou os três, mas somente Lokesh sustentou seu olhar determinado. Sob a camisa, o amuleto de pedra do príncipe repousava frio  sobre sua pele, enquanto a ira percorria-lhe o corpo.
   O prisioneiro falou primeiro. lutando para manter longe de sua voz o sentimento de traição:
   - Por que meu futuro pai me trata com tamanha falta de hospitalidade?
   Indiferente, Lokesh fixou um sorriso deliberado em seu rosto.
   - Meu caro príncipe, você tem algo que eu desejo.
   - Nada que você pudesse querer justifica isto. Nossos reinos não estão prestes a se unir? Tudo o que eu tenho está à sua disposição. Você só precisava pedir. Por que fez isso?
   Lokesh esfregou o maxilar, os olhos brilhando.
   - Planos mudam. Parece que seu irmão gostaria de tomar minha filha como noiva. Ele me prometeu certas recompensas se eu o ajudar a alcançar esse objetivo.
   O príncipe voltou sua atenção para Yesubai, que, com o rosto ruborizado, exibia uma pose submissa e recatada, com a cabeça baixa. Esperava-se que seu casamento arranjado com a moça desse início a uma era de paz entre os dois reinos. Ele estivera ausente pelos últimos quatro meses, supervisionando operações militares numa região distante, e deixara ao irmão a incumbência de cuidar do reino.
   Então Kishan estava cuidando de outras coisas além do reino.
   O prisioneiro avançou destemido, encarou Lokesh e o desafiou:
   - Você enganou a todos nós. É como uma cobra enrodilhada, escondida em um cesto esperando o momento de dar o bote.
   Ele alargou o olhar para incluir o irmão e a noiva.
   - Vocês não perceberam? Suas ações libertaram a víbora e nós fomos picados. Seu veneno agora corre pelo nosso sangue, destruindo tudo.
   Lokesh riu, desdenhoso, e falou:
   - Se você em entregar sua parte do Amuleto de Damon, talvez eu o deixe viver.
   - Viver? Pensei que estivéssemos negociando minha noiva.
   - Receio que seu diretos de noivo tenham sido usurpados. Talvez eu não tenha sido claro. Seu irmão terá Yesubai.
   O prisioneiro cerrou o maxilar e disse apena:
   - Os exércitos do meu pai o destruirão se você me matar.
   Lokesh riu.
   - Ele não destruirá a nova família de Kishan. Nós vamos apaziguar seu querido pai e informá-lo de que você foi vítima de um infeliz acidente.
   O homem afagou a barba curta e então esclareceu:
   - Entenda que, mesmo que lhe permita viver, eu governarei ambos os reinos. - Lokesh sorriu. - Se me desafiar, serei obrigado a pegar sua parte do amuleto à força.
   Kishan se inclinou na direção de Lokesh e protestou com firmeza:
   - Pensei que tivéssemos um acordo. Eu só lhe trouxe meu irmão porque você jurou que não o mataria! Apenas pegaria o amuleto.
   Lokesh estendeu a mão rápido como uma cobre e agarrou o pulso de Kishan.
   - A essa altura você já deveria ter aprendido que eu pego o que eu quiser. Se preferir a visão de onde seu irmão se encontra, ficarei feliz em satisfazê-lo.
   Kishan se remexeu na cadeira, mas manteve-se calado.
   Lokesh prosseguiu:
   - Não quer? Muito bem, estou alternando nosso acordo anterior. Seu irmão será morto se não ceder aos meus desejos e você nunca se casará com minha filha, a menos que entregue sua parte do amuleto a mim também. Esse nosso acordo particular pode ser facilmente revogado e eu posso casar Yesubai com outro homem... um homem da minha escolha. Talvez um sultão velho lhe esfriasse o sangue. Se você quiser permanecer perto de Yesubai, terá que aprender a se submeter.
   Lokesh comprimiu o pulso de Kishan até que ele estalou ruidosamente. Kishan não reagiu.
   Flexionando os dedos e girando lentamente o pulso, Kishan se recostou, ergueu a mão para tocar o pedaço do amuleto, oculto sob sua camisa, e fez contato visual com o irmão. Uma mensagem silenciosa foi trocada entre eles.
   Os irmãos lidariam um com o outro mais tarde, mas as atitudes de Lokesh significavam guerra e as necessidades do reino eram prioridade para ambos.
   A obsessão subiu pelo pescoço de Lokesh, latejou em sua têmpora e se assentou atrás de seus olhos negros e peçonhentos. Aqueles mesmos olhos dissecaram o rosto do prisioneiro, sondando, avaliando-o em busca de fraqueza. Encolerizado, Lokesh pôs-se de pé num salto.
   - Que assim seja!
   Ele puxou de sua túnica uma reluzente faca de cabo adornado com pedras preciosas e rudemente arrancou a manda do casaco jodhpuri do prisioneiro, antes branco, mas agora imundo. As corda se enroscaram em seus pulso e ele grunhiu de dor quando Lokesh correu-lhe a faca pelo braço. O corte foi fundo os bastante para que o sangue aflorasse, vertesse e pingasse no chão de ladrilhos.
   Lokesh arrancou um talismã de madeira de seu pescoço e o colocou debaixo do braço do prisioneiro, O sangue gotejou da faca para o amuleto e o símbolo ali gravado fulgurou com um vermelho abrasador antes de pulsar com uma luz branca estranha.
   A luz disparou na direção do príncipe com dedos tateantes que perfuraram seu peito e atravessaram-lhe todo o corpo, dilacerando-o. Embora fosse forte, ele não estava preparado para dor. O prisioneiro gritou quando seu corpo de repente se inflamou com uma erupção que lhe queimava a pele. Ele desabou no chão.
   Estendeu as mãos para se proteger, mas só conseguiu arranhar debilmente os ladrilhos brancos e frios do piso. O príncipe viu, indefeso, quando tanto Yesubai quanto seu irmão atacaram Lokesh, que empurrou ambos com violência. Yesubai caiu no chão, batendo a cabeça com força no tablado sobre o qual se achava o trono. O príncipe tinha consciência de que o irmão estava ali perto, tomado pela tristeza à medida que a vida se esvaia do corpo mole de Yesubai. Em seguida, não teve mais consciência de nada que não fosse a dor.

quinta-feira, novembro 08, 2012

A Maldição do Tigre - Sinopse

Paixão. Destino. Lealdade.
Você arriscaria tudo para salvar seu grande amor?

Kelsey Hayes perdeu os pais recentemente e precisa arranjar um emprego para custear a faculdade. Contratada por um circo, ela é arrebatada pela principal atração: um lindo tigre branco.

Kelsey sente uma forte conexão com o misterioso animal de olhos azuis e, tocada por sua solidão, passa a maior parte do seu tempo livre ao lado dele.

O que a jovem órfã ainda não sabe é que seu tigre Jus é na verdade Alagan Justin Bieber, um príncipe indiano que foi amaldiçoado por um mago há mais de 3000 anos, e que ela pode ser a única pessoa capaz de ajudá-lo a quebrar esse feitiço.

Determinada a devolver a Jus sua humanidade, Kelsey embarca em uma perigosa jornada pela Índia, onde enfrenta forças sombrias, criaturas imortais e mundos místicos, tentando decifrar uma antiga profecia. Ao mesmo tempo, se apaixona perdidamente tanto pelo tigre quanto pelo homem.

Prévia

Quando a jaula do tigre passou diante de mim, tive uma vontade súbita de acariciar-lhe a cabeça e confortá-lo. Eu não sabia se tigres eram capazes de demonstrar emoções, mas tive a impressão de poder perceber seu estado de espírito. Parecia melancólico.

Exatamente nesse momento, uma brisa suave me envolveu  com o perfume de jasmim e de sândalo. Meu coração disparou enquanto um arrepio percorria meus braços. Mas, tão rápido quanto veio, o cheiro delicioso desapareceu e então senti um inexplicável vazio na boca do estômago.

As luzes se acenderam e as crianças começaram a deixar a arena do circo. Devagar, levantei-me e me virei para fitar a cortina atrás da qual o tigre havia desaparecido. Um leve vestígio de sândalo e uma sensação inquietante persistiam. O espetáculo havia acabado e eu estava completamente louca.

Kelsey não conseguia tirar os olhos do tigre que encontrou no circo em que foi trabalhar nas férias. Mas não é só a beleza dele que lhe chama atenção. O felino branco de olhos azuis parece querer lhe dizer alguma coisa e chega até a parar no meio de uma apresentação para encará-la.